Objetivo

O blog visa compartilhar registros das aulas (anotações, fotos, vídeos) comentários críticos sobre os procedimentos vivenciados, acrescentar textos teóricos, poéticos, sugestão de links, músicas. São 15 tópicos, referente as cada uma das aulas ministradas entre março e junho de 2010. Em agosto de 2010 serão publicados artigos hipertextuais produzidos por cada um dos alunos que focam princípios e procedimentos de encenação.



Verbete: Narração. Por Gisele Vasconcelos


Elemento do teatro no qual predomina o ato de narrar, seja por meio dos corpos dos atores ou por outros componentes das sonoridades e visualidades da cena. O ato de narrar se manifesta no relato sobre a peça ou na descrição de eventos e ações durante o processo criativo da cena ou diante do espectador. Através da narração há uma valorização da presença da figura do ator-narrador.
Tendo o seu ápice nas formulações do teatro épico, a narração continua sendo importante movimento no oficio teatral, narração por meio do ator, da cenografia e da fábula.
Na forma épica a narração apresenta o ator em sua duplicidade, ele é o sujeito da cena, o que faz a demonstração, portanto, não desaparece no seu objeto. Na proposta épica o “eu faço isso” passou a ser “foi isto o que ele fez e não outra coisa” (BRECHT, 2005, p.150)
Na peça Rainhas: duas atrizes em busca de um coração as atrizes brincam com as possibilidades narrativas e jogam com as fronteiras entre representação e não representação, ora fazem referências às personagens da estrutura dramática, ora se autoreferenciam.
 Esse autoreferencial do artista, através da narração, é colocado, por Lehmann (2007, p. 187), como um aspecto diferencial da forma épica:
“enquanto o teatro épico transforma a representação dos procedimentos fictícios e procura distanciar de si o espectador para fazer dele um especialista, um jurado político, nas formas de narração pós-épicas trata-se da valorização da presença pessoal do narrador, e não de sua presença demonstrativa, trata-se da intensidade autorreferencial desse contato, da proximidade na distância, e não do distanciamento do próximo”.
Nas múltiplas narrativas presentes nas obras de Pina Bausch, as narrações abordam as próprias experiências de seus dançarinos, a exemplo de 1980.  
Caracterizado como um teatro de possibilidades, a cena contemporânea destina-se a romper com os limites do drama. Nesse ímpeto, o teatro abre um diálogo com distintas linguagens e manifestações artísticas, a exemplo das experimentações de Robert Lepage, apresentando múltiplas narrativas no lugar da apresentação de uma narrativa central.
Diante de poucos elementos autoexplicativos, o espectador se encarrega na produção do que pra ele faz sentido.
 Tomando como referencia o espetáculo La Chambre d'Isabella, de Jan Lauwers . Josette Féral (2009, p. 202) afirma que “o espectador entra e sai da narrativa, navegando segundo as imagens oferecidas ao seu olhar. O sentido aí não é redutivo. A narrativa incita a uma viagem no imaginário que o canto e a dança amplificam.”
Para Lehmann (2007, p. 186) “A narração que se perde no mundo das mídias, encontra um novo lugar no teatro. Não por acaso há uma redescoberta da representação de fábulas”.
Sob variadas manifestações, a narração continua sendo um componente importante do ofício teatral e segundo Barba (p. 140) “pode ser um válido instrumento para dilatar o olhar do diretor durante os ensaios e, sucessivamente, o olhar do espectador durante o espetáculo”.

Bibliografia
Barba, Eugenio. Queimar a Casa: origens de um diretor. São Paulo: Perspectiva, 2010.
Brecht, Bertolt. Estudos sobre Teatro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005.
Féral, Josette. Por uma poética da performatividade – teatro performativo. Revista Sala Preta, São Paulo, v. 1, n. 8, 2008.
Lehmann, Hans-Thies. Teatro pós-dramático. São Paulo: Cosac Naify, 2007.