Objetivo

O blog visa compartilhar registros das aulas (anotações, fotos, vídeos) comentários críticos sobre os procedimentos vivenciados, acrescentar textos teóricos, poéticos, sugestão de links, músicas. São 15 tópicos, referente as cada uma das aulas ministradas entre março e junho de 2010. Em agosto de 2010 serão publicados artigos hipertextuais produzidos por cada um dos alunos que focam princípios e procedimentos de encenação.





“Jogo Performativo”; por Eduardo de Paula –[1]

§ Relativo ao ator/performer e aos aspectos de jogo observados no discurso do entorno da performance; 1. Colocar-se em jogo de cena considerando toda a sua previsibilidade e a imprevisibilidade; 2. Absorver os acidentes que acontecem no ato vivo do jogo de cena; 3. Considerar tanto os traços ficcionais quanto os biográficos; ou seja, o ator/performer joga desempenhando pelo menos duas linhas de ações: o personagem ficcional e a sua própria biografia; 4. Consciência de estar em um lugar instável e, por isso, em risco – o que gera um estado de prontidão para jogar com tudo o que ocorrer no “aqui e agora”.

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Este verbete está diretamente ligado às proposições da pesquisa intitulada “Jogo e Memória: Essências – o procedimento do Círculo Neutro como base para os processos de preparação e criação do ator/performer”[2].Jogo é uma das essências principais observadas neste procedimento, colocado em ação de maneira tal que o ator/performer é levado a relacionar-se com o previsível e o imprevisível, assumindo os riscos e absorvendo os acidentes das ações que se desenvolvem no momento do ato. Estes aspectos são também observados no “discurso do entorno da performance”, e este é o motivo pelo qual estamos denominando-o como jogo performativo.

Essa ideia de jogo [...] encontra-se no coração das teorias da performance e dos performance studies. [...] a maior parte das noções de jogoimplicam em princípios de descontração, liberdade e divertimento. [...] jogo pode estar em tudo e em parte nenhuma, tudo imitar e não ser identificado por ninguém(...)[3] (Féral; in Mostaço, 2009, p.57)
Vale ainda explicitar que “jogo performativo” não é uma modalidade de jogo, mas principalmente certa Atitude[4] que o artista toma frente ao jogo no momento que se coloca em relação a ele, considerando a “vida viva” que corre no “aqui agora”, com toda a sua previsibilidade e imprevisibilidade, seus acidentese riscos. É então, a partir do paralelismo observado pelas proposições pertinentes ao amplo campo de jogo[5]e a performance que estamos utilizamos o conceito “jogo performativo”.

Essa valorização do instante presente da atuação faz com que o performer tenha que aprender a conviver com as ambivalências tempo/espaço real X tempo/espaço ficcional. [...] (Cohen, 2011, p.98)

Faz-se ainda pertinente considerar a linha de pesquisa “Pedagogia do Teatro: a formação do artista teatral” para melhor compreender as acepções filosóficas,políticas e atitudinais contidas na ideia de jogo performativo. Considerando que as referências do artista teatral no início de sua jornada podem ser frágeis e/ou reveladora de certo "lugar comum", se evidenciar teatrocom aquele do tipo à italiana e trabalho de ator com interpretação de personagem, fazendo-se necessário ampliar este campo referencial primeiro, e apresentar as inúmeras possibilidades das linguagens cênicas percorridas ao longo da história, a diversidade de utilização do espaço/tempo e das distintas possibilidades de ação do ator/performer.

No núcleo do conceito de performatividade está a acepção de "virtual" (ou, como querem alguns, de "simulação"). Ela absorve tudo o que está na circunvizinhança de "símil, como se, em lugar de, experimento, tentativa, ensaio, fingimento" ou "disfarce", quando tais termos designam ou referem operações ligadas à concepção/execução de um ato ou performance. Tais ações podem preceder ou serem simultâneas ao próprio agir, com ele guardando relações íntimas e indissociáveis. Onde a ênfase incide, em todos esses casos, sobre o modo como são realizadas as ações. (Mostaço, 2009, p.35)

A partir da ciência e experimentação de proposições artísticas fundamentadas na ideia de ”jogo” considerado a partir do discurso do entorno da performance - “jogo performativo -, acreditamos que o ator/performer poderá desenvolver habilidades mais potentes para colocar-se em cena com prontidão e organicidade.

Bibliografia
COHEN, Renato. Performance como linguagem. SP: Perspectiva, 2011.
GLUSBERG, Jorge. A Arte da Performance. SP: Perspectiva, 2007.
MOSTAÇO, Edélcio et al (Org.). Sobre Performatividade. Florianópolis: Letras Contemporâneas, 2009.







[1] Verbete referente à disciplina “Encenações em Jogo: Experimentos de Criação e Aprendizagem do Teatro Contemporâneo” – Prof. Marcos Bulhões Martins – PPGAC – ECA/USP, 2012.
[2]Pesquisa de doutorado, iniciada em 2012, sob orientação do Prof. Dr. Armando Sérgio da Silva – PPGAC – ECA/USP.
[3] (negritos nossos).
[4] “Atitude” diz respeito tanto ao viés filosófico, quanto político.
[5] Jogos tradicionais, jogos dramáticos, jogos teatrais, jogos esportivos, jogos sociais, etc.

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