Objetivo

O blog visa compartilhar registros das aulas (anotações, fotos, vídeos) comentários críticos sobre os procedimentos vivenciados, acrescentar textos teóricos, poéticos, sugestão de links, músicas. São 15 tópicos, referente as cada uma das aulas ministradas entre março e junho de 2010. Em agosto de 2010 serão publicados artigos hipertextuais produzidos por cada um dos alunos que focam princípios e procedimentos de encenação.



Repetição em Pina Bausch por Patricia Neves de Almeida

“Repetir”, segundo as acepções possíveis, é “redizer o que se disse” ou “repetir uma experiência”. Em Pina Bausch a repetição se tornou um procedimento cênico recorrente na linguagem de seus espetáculos.

A história mostra que o balé clássico sempre utilizou a repetição como exercício de aprimoramento da técnica do bailarino. Em outras palavras, é preciso repetir para alcançar a perfeição. Na direção do Tanztheater Wuppertal, Pina Bausch manteve a base clássica, mas superou a prática da repetição, elevando-a ao estatuto de estética.

Para a composição da coreografia, o dançarino trazia respostas a questões lançadas pela coreógrafa, na forma de experiências e emoções vividas e, na construção do gesto, baseava-se em movimentos cotidianos. Em seguida, por meio da repetição exaustiva, esse gesto se desvinculava do sentido original e era ressignificado. Nas palavras de Fernandes (2007, p. 42):

A repetição torna-se instrumento criativo por meio do qual os dançarinos reconstroem, desestabilizam e transformam suas próprias histórias como corpos estéticos e sociais. O método é inicialmente usado para fragmentar as experiências dos dançarinos e a narrativa de suas frases de movimento.

A Dança-Teatro alemã recebeu influência das teorias sóciopolíticas e das práticas teatrais de Bertolt Brecht, como o estranhamento, também conhecido por distanciamento. Os processos de Pina Bausch revelavam a presença de gestos estranhados, os quais resultavam da repetição. Esse estranhamento era verticalizado e gerava situações inusitadas. Na visão de Caldeira (2009, p. 59):

As cenas insólitas de Bausch desafiam a lógica, mas é por meio dessa perversão da lógica, que a arte de Bausch adquire uma força de expressividade única, que carrega os traços das lutas do homem contemporâneo e sua contradição com o sistema da cultura.

A idéia era libertar o gesto de sua correspondência com a percepção, realizando uma ruptura com o sentido lógico: “[...] as repetições constantemente fragmentam e separam os significados de suas formas originais” (FERNANDES, 2007, p. 32).

De acordo com Fernandes (2007) a “repetição obsessiva” retira do gesto a sua espontaneidade. Primeiro, o movimento surge como natural e corriqueiro, depois, ganha novos significados, torna-se estético. Segundo Lehmann (2007) é característica do teatro pós-dramático a repetição, empregada na intenção de desconstruir o drama e a unidade de tempo.

Veja trecho do espetáculo “Café Muller”, de Pina Bausch:

Descrição de processo criativo

Na disciplina Encenações em Jogo, ministrada pelo professor Marcos Bulhões, na Pós-Graduação em Artes Cênicas, ECA-USP, pudemos aprofundar o conhecimento dos procedimentos cênicos desenvolvidos por Pina Bausch. O estudo teve as seguintes fases:
-Busca, em vídeos disponíveis na Internet, de gestos bauschianos;
-Escolha de uma música para posterior coreografia;
-Compartilhamento dos gestos com o grupo todo;
-Divisão do grupo em pequenos coletivos;
-Aumento do repertório de gestos e criação de seqüências;
-Busca de gestos estranhados;
-Improvisos, contendo citações de gestos de Pina Bausch;
-Finalização, com breve apresentação.

A repetição foi um procedimento recorrente nos coletivos. A seguir, trecho de um improviso realizado pelo meu grupo:

Referências:

CALDEIRA, Solange Pimentel. O lamento da imperatriz: a linguagem e o espaço em Pina Bausch. São Paulo: Annablume, 2009.
EICHENBERG, Fernando. Vida que se move. Bravo, São Paulo, v.108, p. 84-88, ago. 2006.
FERNANDES, Ciane. Pina Bausch e o Wuppertal dança-teatro: repetição e transformação. São Paulo: Annablume, 2007.
LEHMANN, Hans-Thies. Teatro pós-dramático. São Paulo: Cosac Naify, 2007.
PAVIS, Patrice. Dicionário de teatro. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 2005.
2008.

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